A Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Minas Gerais, utilizou, na safra de 2019/2020, uma derriçadeira costal, tecnologia que multiplica por quatro a produtividade do trabalhador de campo no período na colheita.

Desenvolvida em 1997 por pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP), e comercializada a partir de 2004, a derriçadeira foi projetada para cafezais em relevos montanhosos de difícil acesso por colheitadeiras convencionais.

“Ela foi uma revolução. Só quem está há muito tempo no café sabe das dificuldades da colheita nas áreas em que as colhedoras automotrizes ou tracionadas não entram”, relata Mário Ferraz de Araújo, gerente do Departamento de Desenvolvimento Técnico da Cooxupé, que atua há 33 anos na cooperativa, reunindo cerca de 14 mil cooperados, 95% deles pequenos produtores familiares.

Por isso, os resultados promovidos pela derriçadeira impactaram muitas famílias que vivem desse grão. O cálculo dos benefícios de 2019, em cerca de R$ 770 milhões, foi obtido por um levantamento coordenado pela pesquisadora da Embrapa Cinthia Cabral da Costa.

A trajetória

O início dos estudos é de tempos atrás, com a inquietação do então presidente da Cooxupé, Isaac Ribeiro Ferreira Leite, e um dos produtores associados, o cafeicultor Mário Ferrari.

Uma das culturas mais tradicionais na agricultura brasileira, o café apresentava sérios entraves no processo de colheita em regiões como o Sul de Minas, onde está localizada a sede da cooperativa.

Isaac Leite fez várias tentativas, desde a adaptação de uma máquina de colher azeitona, que havia conhecido na Europa, até uma roçadeira fabricada por uma empresa alemã. Procurou a Embrapa para uma parceria e o engenheiro mecânico Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa, foi designado para trabalhar no desenvolvimento de um protótipo, testado durante a colheita.

Máquina multiplica a colheita por quatro

“O que a Embrapa fez foi um estudo das iniciativas, princípios existentes para colheita de frutos e arquiteturas de máquinas. A solução proposta resultou em uma configuração final com motor a explosão na extremidade inferior às varetas e um valor de frequência de vibração – princípio de derriça da máquina”, explica Ricardo.

O melhor resultado que os testes comparativos entre a derriça manual e a mecanizada encontrou foi a possibilidade de a máquina multiplicar a capacidade de um homem por quatro. “Esse dado foi extraído das lavouras em que os pés de café estavam bem carregados de frutos e com altura elevada, que no caso de uma derriça manual tornava necessário o uso de escadas. Vale muito lembrar que, na época em que os testes foram realizados, não existiam operadores experientes”, finaliza Ricardo.

Como funciona a derriçadeira costal

A derriçadora ou derriçadeira (como é chamada no campo) é um aparelho mecânico manejado manualmente e acionado por motor lateral ou costal, que faz vibrar as varetas localizadas na extremidade superior de uma haste, promovendo a queda (derriça) dos frutos. É também chamada de mão mecânica, pela sua aparência semelhante a uma mão humana. Ela substitui a colheita manual, em que o trabalhador usa a mão para puxar o ramo e derrubar o grão. A tecnologia também dispensa o uso de escadas e permite maior produtividade.

É um sistema de operação semelhante ao pneumático, entretanto, um motor de dois tempos é acoplado diretamente à haste, tornando o operador autônomo em relação aos tratores e compressores. O peso total da máquina, atualmente, é menor que 6 kg. O peso maior localiza-se principalmente junto à base, o que torna a máquina relativamente ergonômica utilizando-se alça tiracolo. Essas características permitem que o equipamento trabalhe em terrenos acidentados e culturas adensadas, de forma eficiente, em uma propriedade de pequeno porte.

Menos danos à planta

O gerente da Cooxupé, Mário Ferraz, destaca que, além de tornar o processo mais ágil, a derriçadeira causa menor injúria ao cafeeiro do que a colheita manual. “Isso possibilita que a planta se recupere mais facilmente,” explica. Essa visão é compartilhada pelo produtor Jorge Justino de Melo: “a produtividade até melhorou, porque não quebra as ponteiras e galhos. Quando a colheita era manual, você via aquele monte de ponteira e galhos quebrados, agora isso não acontece”.

Além disso, o trabalhador, apontado como principal usuário e beneficiário da tecnologia, obtém aumento de produtividade e renda. “Melhorou demais da conta, e cansa muito menos”, atesta o colhedor de café João Batista. “Hoje, esse profissional é um trabalhador valorizado, ele tem que conhecer o equipamento para ter rendimento”, argumenta Mário.

As informações são da Embrapa.

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