O sistema de programar a safra de café através de poda, de forma a zerar a produção, concentrando safras altas a cada 2 anos, tem tido grande aceitação pelos produtores em diferentes regiões. Mas é nas áreas de cafeicultura de montanha, onde os tratos e a colheita são manuais, que esse sistema é ainda mais adequado, pois permite grande economia de mão-de-obra e promove melhorias na rentabilidade da lavoura.

Os técnicos e produtores das principais zonas cafeeiras montanhosas do País, no estado do Espirito Santo e na região da Mata de Minas, não têm recebido informações apropriadas sobre as vantagens do uso da poda de esqueletamento/desponte e, assim, a poda de recepa ainda é usada em grande escala. A pesquisa é farta em trabalhos evidenciando maiores benefícios produtivos de podas menos drástica, como o esqueletamento/desponte. Dois ensaios, realizados nessas condições, exemplificam isto. Em Marechal Floriano (ES) (tabela 1), pode-se observar que o esqueletamento resultou em produtividade de cerca de 63 scs/há contra cerca de 19 scs na recepa. Em Varginha (MG) (tabela 2), a safra de lavoura adensada, pós-esqueletamento, foi de cerca de 84 scs/ha e, mesmo com a safra zero, resultou na média de 42 scs/há, enquanto onde se conduziu sem poda a safra média nos 2 anos foi de 18,5 scs/há, além de precisar de dois trabalhos (despesas) de colheita.

Uma melhor difusão das recomendações sobre o sistema de poda para safra zero em cafeeiros deve, assim, ser feita nessas importantes zonas de cafeicultura de montanha. As principais condições a serem observadas são:

1- Quando iniciar a poda: o esqueletameto deve ser iniciado de forma preventiva, ou seja, quando ainda os cafeeiros não tenham perdido muito a saia, possuindo os ramos produtivos de sua parte inferior. Caso haja alguma perda de saia, até cerca de 1 m de altura, ainda é possível aplicar este tipo de poda, conduzindo alguns brotos ladrões para recompor a saia.

2- Época de poda: a poda deve ser realizada o mais cedo possível, após a colheita, pois assim as brotações dos ramos terão maior desenvolvimento.

3- Altura e largura de corte da poda: a altura em que vai ser cortada a haste principal vai depender do espaçamento. Em larguras maiores na rua, usar 2 m ou mais. Em cafeeiros mais adensados, baixar essa altura. Já o corte dos ramos laterais um pouco mais longo, com 40-50 cm do tronco, tende a resultar em maior produtividade, especialmente quando as plantas possuírem menos ramos laterais, para serem brotados.

4- Condução da brotação: existem diferentes tipos de condução dos brotos, com desbrota parcial ou total e sem desbrota, sua adoção dependendo da disponibilidade de mão de obra. Nas podas mais altas e em cafeeiros de variedades de porte baixo, a desbrota pode ser dispensada, pois no ciclo de poda seguinte o excesso de brotos/hastes vai ser eliminado.

5- Adubação: é uma prática não completamente definida, mas vem sendo usada mais comumente com a adoção de um nível de adubação menor, cerca de 50-60%, no ano da poda (sem safra) e a adubação total (100%), calculada com base na produção esperada no ano de safra alta.

6- Economias possíveis: a maior economia ocorre com a colheita feita a cada 2 anos e com melhor rendimento/custo nessa operação, por se tratar de plantas com boa carga. Também, dependendo da observação local, caso em fevereiro as plantas se mostrem bem enfolhadas, sem stress pela carga, pode-se retirar a última parcela de adubação e até uma aplicação final de defensivos, sempre que se vá fazer um novo esqueletameto e que essa poda seja feita rapidamente, evitando/interrompendo eventuais processos de seca de ramos produtivos.

Por último, é muito importante observar que, apesar de ser possível recuperar lavouras com uso da poda de esqueletamento, a maior resposta produtiva do sistema safra zero, ou seja, a obtenção de uma safra alta, que resulte numa boa média bienal, mesmo diante da safra seguinte zerada, se dá em lavouras que tenham um bom stand, um número adequado de plantas por área.


Em áreas de cafeicultura de montanha, a poda de esqueletamento/desponte visando zerar a safra é uma prioridade para economia de mão de obra. Aqui é realizada com uma podadeira motorizada de operação manual


Na área do ensaio em Marechal Floriano (ES). À esquerda os cafeeiros recepados, ainda com brotação pequena e menos produtivos, do que os da direita, que foram esqueletados na mesma época

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