Um grupo de produtores de café arábica de Timburi (SP), que aderiu recentemente a um projeto de produção agrícola em sistema agroflorestal, fechou a primeira parceria com uma empresa holandesa importadora, a The Coffee Quest. Por meio de contato com os representantes da importadora no país, a The Coffee Quest Brasil (que opera desde 2019), foi negociada uma pré-venda inicial de até 100 sacas com previsão de embarque ainda em 2021.

O volume é praticamente simbólico se comparado com o que se vê no dia a dia do segmento, mas a venda é o primeiro passo de um negócio valioso por sua característica: os donos dessas fazendas concordaram em ajustar seus modelos produtivos, a fim de tocar a atividade econômica enquanto contribuem para a reconstrução do ambiente. Comercialmente, o resultado foi um valor médio da saca 15% superior ao patamar de preços de mercado.

Interessados em impulsionar a conversão de modelos produtivos, os importadores devem desembolsar € 100 a mais por saca, além dos preços com valor agregado acertados na pré-venda. “É uma condição muito especial para esse primeiro momento”, comemora o engenheiro florestal Valter Ziantoni, um dos fundadores da consultoria Pretaterra. A empresa, que tem a bióloga Paula Costa como cofundadora, é a responsável pela elaboração e condução do projeto e contou com aporte inicial de R$ 3 milhões, a fundo perdido, da UBS Optimus Foundation, braço filantrópico do banco suíço UBS.

O projeto começou em 2020 e envolve 35 famílias produtoras, a maior parte de pequeno porte. Os sistemas serão implementados em 100 hectares na fase piloto, com o café como cultura carro-chefe. Na primeira etapa, as terras com café já plantado vão passar por conversões do modelo. Na lista de atividades em curso neste ano estiveram a identificação das áreas que serão ajustadas aos modelos de intervenção dentro das propriedades e o treinamento dos produtores, por exemplo.

Linhas entremeadas e sombreamento

Há quatro modelos, explicam os coordenadores. O principal por ora, com foco no café, considera a produção em linhas entremeadas com outras culturas (caso do abacate) e com sombreamento feito por árvores que não geram renda, mas contribuem para benefícios ecossistêmicos. A melhoria do solo, que ajuda a aumentar a resiliência ao clima e a doenças, é um deles.

Serão impulsionados também o modelo agroflorestal de silvicultura, com plantio de madeiras nativas de ciclo longo, junto com produções não madeireiras, como o mel; um que une lavoura, pecuária e floresta; e um que visa a recompor a vegetação nativa nas áreas de proteção permanente, principalmente as próximas às nascentes.

O projeto-piloto deve render mil sacas de café no primeiro ano e meio. Os cafés da região foram escolhidos pelos importadores não só pelo andamento do projeto agroflorestal, que começará agora, mas também porque são arábicas especiais, com notas acima de 80 pontos conforme critérios de instituições internacionais.

Segundo Gabriel Lessa e Teresa Castro, responsáveis pela The Coffee Quest Brasil, cafés com mais de 82 pontos podem ter valor agregado de R$ 200 por saca sobre a base negociada na bolsa de Nova York. Porém, eles acrescentam que os valores variam conforme cada negociação. Sediada em Varginha (MG), a representante da companhia holandesa compra cafés especiais nas principais regiões produtoras, geralmente pequenos lotes, de produtores que apostam em diferenciais.

As informações são do Valor Econômico (Por Érica Polo).

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