Por Rodrigo Costa*

O FED, banco central americano, fez um corte emergencial da taxa de juros em 0.50% após se reunir com autoridades monetárias dos países mais ricos do mundo, mas a medida se mostrou inócua diante de um cenário crescente de pânico e as bolsas desmoronaram novamente na semana.

No momento que escrevo, 22 horas do horário de Nova York, o petróleo toma um tombo de 26% no overnight e os índices futuros dos índices acionários americanos negociam em limite de baixa (-5%). Na Ásia os mercados operam com perdas de 2% a 6%.

A queda do barril de 30% em um dado momento é a pior desde a vivida em 1991, quando os Estados Unidos entraram em guerra com o Iraque e o motivo para a pressão foi o anuncio da Arábia Saudita no corte do preço da commodity após ter falhado em convencer a Rússia a cortar produção.

Pelo que indica, a segunda semana de março promete continuar volátil, mais ainda com a crescente contaminação pelo COVID-19, que provocou baixas fortes nos últimos cinco dias úteis.

O café foi afetado em Nova York, depois de romper US$ 120 centavos por libra, caiu 1.500 pontos com a cotação do contrato de maio de 2020, atingindo a 107,40.

As oscilações diárias de 700 pontos deixam qualquer operador tonto e o impacto negativo nos preços refletem a retração do apetite ao risco, verificada inclusive na apreciação do câmbio que bateu R$ 4.6710 na sexta-feira.

Em Austin, no Texas, o setor se reuniu para a convenção da National Coffee Association (NCA), ainda que ao redor de 15% dos atendentes tenham cancelado a viagem em função do coronavírus.

O tema mais conversado nas múltiplas reuniões e bate-papos foi a quebra da produção de Honduras, cuja safra de 2019/2020 tem números que variam de 5,2 a 6,4 milhões de sacas. Para os brasileiros, naturalmente, 800 mil sacas pouco representam, entretanto, o segundo maior produtor de suaves é o principal abastecedor dos estoques certificados da bolsa e suas safras anteriores estavam acima de 7 milhões de sacas.

Fatores como a firmeza dos diferenciais, terminal pressionado e a disponibilidade de café limitada faz da grande maioria altistas para os preços futuros, e, por ora, poucos estão considerando os efeitos no menor crescimento econômico global provocado pelo surto da gripe.

Outro ponto, a meu ver, consensual, é uma provável utilização dos estoques da ICE, ainda que o timing e volume variem razoavelmente.

Poucos baixistas trazem como argumento a safra grande brasileira e a moeda da principal origem.

A produção de cafés semi-lavados e lavados será acompanhada com bastante atenção durante a colheita no Brasil e, para ter volume significativo, é necessário o clima colaborar.

Mesmo assim, eu não creio que esta qualidade venha arrefecer os níveis do basis para os suaves e, desta forma, acredito na manutenção dos diferenciais “caros” de Colômbia, Peru e da América Central até vermos a bolsa subir ou talvez baixem algo quando entrarem as safras novas a partir de outubro de 2020 e março de 2021.

Difícil prever neste momento quanto mais durará o nervosismo dos investidores, mas devemos ter mais sangue na semana que se inicia.

Uma ótima semana e bons negócios a todos.

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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