Por Natália Camoleze

Com a expectativa para a safra deste ano e tantas dúvidas que foram geradas, entramos em contato com o Analista Sênior do Departamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank Brasil, com foco no setor de café, Guilherme Morya, que abordou alguns pontos. 

Em relação ao consumo global de café, o Rabobank projeta um crescimento para o ciclo 2021/2022 (outubro-novembro) de apenas 1,3% comparado à 2020/2021, em 166,8 milhões de sacas. “Apesar dos bons dados de consumo em regiões não produtoras no primeiro trimestre de 2022, o conflito entre Rússia e Ucrânia (que juntos representam cerca de 3,5% da demanda mundial), os lockdowns na China (com a política de “covid-zero”), o aumento dos estoques públicos de café nos EUA, Japão e Europa, e o repasse dos altos preços de café verde ao consumidor diante da pressão inflacionária global, trazem preocupações à demanda”, destaca Guilherme. 

Já para o Brasil, o Rabobank estima o consumo em 21,5 milhões de sacas para a temporada 2021/2022, 0,5% maior em comparação ao ciclo passado. “Foram reportados que nos primeiros meses de 2022, o consumo ficou estável em comparação à 2021. A demanda pode ter se beneficiado dos efeitos positivos do reajuste do salário-mínimo e do auxílio Brasil. Porém, o aumento de 88% no preço do café no varejo nos últimos 12 meses, diante da alta nos custos de alimentos, pode limitar o consumo nos próximos meses”. 

Em relação a grande dúvida sobre os preços do café, Guilherme explica que eles passaram por forte volatilidade nos últimos meses. Em junho de 2022, os preços de café arábica apresentaram valorização média de 48% e 56%, em Nova Iorque (ICE-NY) e no Brasil (Cepea), respectivamente. Já o canéfora (conilon), utilizado em alguns blends comerciais no Brasil, apresentou alta de 44% frente a junho de 2021 no mercado doméstico.

“É possível que novas altas nos preços ocorram, dado incertezas no cenário logístico global, limitações na oferta (além do Brasil, outros países produtores de café arábica enfrentam problemas de produção) e lembrando que entramos na estação de inverno no Brasil, fato que sempre gera temor quanto ao risco de geadas. Porém, olhando à frente, os preços de café parecem ter encontrado uma resistência, não somente pelas incertezas na demanda, mas também pela boa safra de canéfora (robusta) no Vietnã e a que está sendo colhida no Brasil”, aponta Guilherme. 

Em relação ao consumo de café fora do lar, o analista destaca que desde a reabertura do comércio no mundo, observamos uma retomada nesta saída para degustar a bebida. “Infelizmente, tivemos muitas cafeterias encerrando suas atividades, especialmente as independentes. As grandes redes de cafeterias, que conseguiram se manter durante a pandemia, se beneficiaram desse momento de retomada. Acreditamos que em 2022, teremos uma boa recuperação no consumo global nas cafeterias, mas, somente em 2023, vendas nas cafeterias devem superar os níveis de 2019. Com a adoção dos sistemas híbrido de trabalho, acreditamos que o consumo dentro do lar segue forte, especialmente em um momento de pressão inflacionária que acaba limitando gastos extras”. 

Safra 2022/2023

A dúvida do mercado nos últimos tempos é em relação à safra. Segundo Guilherme, houve atrasos na colheita devido à maturação tardia, menor disponibilidade de mão de obra e os altos custos. “Apesar das informações que a qualidade da safra é boa, vem sendo reportado no campo algumas perdas adicionais de produtividade nas regiões de café arábica. Para essa espécie, essas notícias chamam atenção, pois é uma safra que teria um bom potencial dado ao ciclo de produção maior, mas, que foi frustrada por conta da geada que ocorreu em 2021. Porém, para o canéfora (conilon), a perspectiva continua sendo positiva e trabalhamos com um cenário de safra recorde, em 23,1 milhões de sacas. Nas próximas semanas, com o andamento da colheita, os estoques devem se recompor e a disponibilidade para o consumo interno não deve ser um problema”. 

Para finalizar, Guilherme avalia as exportações brasileiras do grão, que apesar dos gargalos logísticos enfrentados pelos exportadores de café, com elevados custos marítimos e falta de contêineres, seguem em bom ritmo. Segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em maio de 2022, o Brasil exportou 2,8 milhões de sacas de café, 5,1% acima em relação a maio de 2021. Mesmo assim, os atuais problemas logísticos, associados à baixa produção em 2021, vêm impactando as exportações em 2022. “No acumulado de 2022 (jan-mai), foram exportadas 16,6 milhões de sacas, 7% menor em comparação ao mesmo período de 2021. Olhando à frente, a continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia e os lockdowns observados na China, trazem incertezas na continuidade das melhoras no cenário logístico, porém a chegada da safra 2022 deve colaborar para manter o ritmo das exportações. Nós projetamos as exportações brasileiras de café, em 2022, próximo a 40 milhões de sacas”. 

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