Por Adilson Sérgio Machado Junior*

Desafiador não seria a melhor definição para a cafeicultura brasileira considerando o biênio 2020/2021. Inicialmente, uma pandemia que mudou e continua mudando os hábitos de muita gente ao redor do mundo, inclusive de consumo de café. No segundo semestre uma seca severa que certamente prejudicou a safra a ser colhida no ano de 2021, escassez que se arrastou até outubro de 2021 de forma intensa e neste meio tempo, uma onda de frio na qual acometeu o fenômeno da geada, uma parte considerável do parque cafeeiro nacional, em uma intensidade que há quase 30 anos não se via.

Também tivemos neste período, o Real brasileiro em seu maior valor histórico (já considerando descontos inflacionários), devido às incertezas que pairavam o governo, principalmente relacionadas as contas públicas, somada ao retrocesso econômico causado pela pandemia. No cenário mundial, beiramos uma crise energética causada pelo possível déficit de petróleo acompanhado de um mercado extremamente desregulado no que diz respeito ao fornecimento de insumos de produção. Fatos estes que tem sido responsáveis por altos níveis de inflação em economias desenvolvidas e logicamente com um forte impacto no Brasil.

A cereja do bolo é a crise logística mundial. A diminuição da produção de bens e serviços durante o período de isolamento social ocasionou uma ruptura no ciclo marítimo de trânsito de cargas, uma vez que os navios ao atracarem em algum porto ao redor do mundo, não necessariamente teriam destinos posteriores devido à queda de exportações. O impacto deste problema é sentido diretamente na cafeicultura, considerando que a maior parte de seus insumos é importada e a produção exportada.

Todos os fatores citados, durante o ano de 2021 passaram a se refletir de forma intensa nas cotações de café em Nova York, que intensificadas pelo câmbio, seguidas vezes atingiram máximas históricas, considerando o padrão café tipo 6 bebida dura para melhor. No entanto, o déficit de produção ocasionado pela seca e o montante que os produtores já haviam comprometido nas operações de venda futura e troca foram limitantes para apropriação deste cenário.

Independentemente do que aconteça, o cafeicultor sabe que adubação, mão de obra e tratamento químico serão necessários para melhor produtividade, estes custos inevitavelmente irão ocorrer e uma boa gestão de risco está atrelada à garantia de que estes procedimentos serão executados nos prazos e quantidades necessárias.

O intuito de uma venda antecipada de café, seja modalidade troca ou venda futura, é justamente a garantia de que o produtor terá os recursos necessários para as práticas corriqueiras de seu o processo produtivo. Toda atividade produtiva tem um custo, no caso do cafeicultor, este pode ser calculado através do volume de sacas mínimo necessário para sua produção. O intuito é demonstrar que a eficiência das ferramentas de comercialização está diretamente atrelada a proteção de custos e não majoração de ganhos, volumes de fixação de preço além do necessário, eliminam o risco de queda, porém expõem o produtor ao risco de produção e é importante ressaltar que este fato tende a sinalizar alta nas cotações.

Portanto, as ferramentas de comercialização do mercado, bem como todas as demais relacionadas a gestão, são muito importantes para decisões assertivas e para continuidade do negócio, porém é necessário o entendimento sobre sua utilização e o devido equilíbrio que todo o processo produtivo demanda. Com isso é possível estabelecer uma boa gestão de risco do seu negócio, mesmo com todas as incertezas que ainda pairam no mercado de café de modo geral.

*Adilson Sérgio Machado Junior é coordenador de Operações Café da Cocapec.

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