A casca ou palha de café é um subproduto da própria lavoura, sendo oriunda do beneficiamento dos frutos, resultando em grande quantidade, equivalente a cerca de 50%, em peso, do café colhido. Ultimamente a palha tem sido muito usada para queima, como fonte de calor, nas fornalhas de secadores. No entanto, seu uso como adubo orgânico, com seu retorno para a lavoura, deve ser prioritário.

Dependendo do processamento do pós-colheita, a palha pode ser de três tipos. Aquela da casca do café despolpado, a do café seco em coco (a mais comum) e a resultante do beneficiamento do pergaminho do café despolpado. À exceção da palha do pergaminho, as demais apresentam bom conteúdo nutricional. Além do fornecimento de nutrientes, com liberação gradual e bom aproveitamento, a palha ajuda a melhorar as condições físicas e biológicas do solo. A composição em NPK dos três tipos de palha, em comparação com a fonte esterco de curral, está apresentada na tabela 1.

Tabela 1 – Composição de NPK em tipos de palha de café, em comparação com o esterco de curral

O retorno da palha de café para a lavoura pode representar economia significativa, pois complementa e melhora o efeito da adubação química, sem custos de aquisição por ser um resíduo da própria lavoura, só com despesas na sua aplicação, hoje facilitada de forma mecanizada. Na tabela 2 podem ser observados resultados dessa combinação.

Tabela 2 – Produtividade em cafeeiros sob efeito de adubação orgânica com palha de café, associada à adubação mineral reduzida proporcionalmente aos nutrientes NPKS contidos na palha – Araxá (MG), 2014

Além disso, pode-se, nas fazendas, ter alternativas melhores para uso como fonte de calor, por exemplo, a lenha de eucaliptos. O custo de implantação e manejo de 1 ha de eucalipto fica em cerca de R$ 10 mil, em 7 anos, e rende cerca de 300 m3 de lenha ou o equivalente a cerca de 43 m3 por ano, ou cerca de 28 t de madeira/ano. Enquanto isso, para uma produtividade de 30 sacas de café/ha, a palha produzida corresponde a 1,8 t /ano e as despesas por ha são de cerca de R$ 12-14 mil/ano, portanto, produzir palha, como fonte de calor, é pouquíssimo competitivo.

Caso, por qualquer razão, o cafeicultor decida queimar a palha de café como fonte de calor em secadores, a cinza resultante, obtida nas fornalhas, também deve ser aproveitada na lavoura. Em estudo realizado na Fazenda Experimental da Fundação Procafé, em Varginha (MG), foi tomado 1 kg de palha de café seca (cerca de 10% de umidade), oriunda do beneficiamento de café em coco, depois de queimada, o 1º resíduo, uma forma de carvão, resultou em 0,62 kg, e, prosseguindo na queima, até tudo virar cinza, chegou-se a apenas 40 gramas. Como a palha de café, em peso seco, tem, em média, para NPK, 1,5%, 0,15% e 3,0%, respectivamente, e sabendo-se que os nutrientes voláteis, ou seja, aqueles que se perdem com a queima, são apenas o nitrogênio e o enxofre, pode-se verificar que a cinza não vai conter estes dois nutrientes, os demais seriam concentrados em cerca de 22 vezes, ou seja, a cinza da queima da palha teria 3,3% de P, 66% de K etc, ou 7,2% de P2O5, 72 % de K2O etc.

Apesar dessa boa riqueza nutricional das cinzas, a maioria dos produtores não as utilizam adequadamente. É comum o seu descarte incorreto, acarretando contaminação do ambiente (solo, plantas e água) e desperdício dos nutrientes disponíveis, principalmente do potássio, exigido em grande quantidade pelos cafeeiros e que possui alto custo.

A palha do café ou suas cinzas devem ser armazenadas em local seco e protegido da chuva, e aplicadas nas lavouras, em cobertura, em dosagem adequada, observando a disponibilidade do solo e demanda das plantas, principalmente em relação ao K, para evitar desequilíbrios.


Palha de café ao natural (esq.), resíduo inicial da queima, uma espécie de carvão (centro) e produto da queima total da palha nas fornalhas, a cinza (dir.)

Fonte