Por Cristiana Couto

Resultados de um estudo publicado hoje pela Embrapa comprovam que a cafeicultura atual das Matas de Rondônia (RO) ocupa apenas 0,57% da área que foi desmatada para o plantio dessa cultura – o que representa menos de 195 hectares. 

O mapeamento, inédito, revela o uso e a cobertura das terras da região – a primeira denominação de origem de canéforas sustentáveis do mundo –, e tem como objetivo imediato a produção de informações para a exportação dos grãos para a Europa exigidas pelo Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (European Union Deforestation Regulation ou EUDR). A área de plantio de café ocupa apenas 0,8% da região das Matas de Rondônia.

Dos 15 municípios que compõem a DO Matas de Rondônia, sete não sofreram desmatamento para que se plantasse café, enquanto em cinco deles, o desmatamento variou de 2,2 a 5,5 hectares (após 2020). 

A Europa é o maior consumidor dos cafés brasileiros, e o mapeamento combinou o uso de geotecnologias e dados de várias instituições (Inpe, Incra, Ministério do Meio Ambiente e Funai) para traçar um panorama da produção cafeeira nesta origem e sua relação com o desmatamento ou degradação florestal entre 2020 e 2023.

A geração dos mapas traz a localização e o tamanho das áreas de pastagens e de floresta –, bem como a quantidade e o tamanho de propriedades produtoras de café, de modo a confirmar se os terrenos dedicados à cafeicultura sofreram degradação florestal a partir de 31 de dezembro de 2020, como exige a legislação, que incide sobre sete commodities agrícolas produzidas na zonas tropicais.

Para o mapeamento, a análise e o processamento dos dados, foram utilizados o Google Earth Pro e a plataforma Google Earth Pro (GEP). O mapeamento selecionou apenas propriedades dedicadas ao cultivo de café, a partir de dados de todas as propriedades rurais declaradas em cada um dos 15 municípios das Matas de Rondônia. Dos 37 mil imóveis, 8,4 mil (22,4 %) dedicam-se à cafeicultura. 

A expectativa, também, é que os resultados do levantamento estimulem o Estado a restaurar áreas degradadas e que ampliem a confiança em investimentos, comercialização e consumo dos cafés da região. 

Sobre as Matas de Rondônia e seus cafés

Matas de Rondônia é uma região com Indicação Geográfica para cafés, e inclui 15 municípios.  O selo IG, concedido em 2021, qualifica a área como Denominação de Origem para Robustas Amazônicos – a primeira DO sustentável da espécie de cafés canéfora do mundo. 

Os robustas amazônicos são híbridos das variedades conilon e robusta, com predominância das características desta última, e são considerados cafés de qualidade (com 80 pontos ou mais, num total de 100). A base da cafeicultura da região é familiar. Rondônia é o segundo maior produtor de canéfora, e o quinto maior produtor de café do Brasil. 



A Europa compra cerca de metade do café brasileiro. Uma das preocupações com a lei europeia é que a maioria dos cafeicultores rondonenses, que são pequenos proprietários, não consigam atender às exigência da regulamentação europeia, que implica em tecnologia e custos altos.

A região das Matas de Rondônia é considerada o berço e a origem dos robustas amazônicos. Ela abrange 17% da população agrícola do estado e 20% de toda a mão de obra empregada na agricultura. 

A cafeicultura ocupa 34 mil dos 4,2 milhões de hectares das Matas de Rondônia (0,8%). Nos últimos anos, a produção dos robustas amazônicos gerou um ganho de produtividade de quase 500% – uma redução de cerca de 80% na área cultivada em relação à década de 1980. Segundo o estudo, a moderna cafeicultura na Amazônia pode ser considerada uma cultura “poupadora de terras”, já que a as boas práticas agronômicas, aplicadas na última década na produção dos robustas amazônicos, foi responsável pela redução da área cultivada em quase 80%.

Os pesquisadores afirmam que a expansão da cultura do café pode avançar sobre as pastagens, localizadas em áreas degradadas, mas que são planas (que possibilita a mecanização) e cujas condições climáticas são ideais para o plantio do grão. 

Eles calculam que, se a cafeicultura se expandir por 25% das áreas de pastagem (ou 475 mil hectares), sem necessidade de remover áreas de floresta, Matas de Rondônia seria capaz de produzir mais de 26 milhões de casas de café – o rendimento médio na região é de 52 sacas por hectare, segundo a Conab. “Isso significa que a região das Matas de Rondônia, sem desmatar nem um hectare de floresta, poderia ter uma produção parecida com a do Vietnã”, relatam os cientistas, referindo-se ao maior produtor de canéforas do mundo.

Diferentemente de outras regiões cafeicultoras do Brasil, mais da metade do território das Matas de Rondônia (56%) é ocupado por florestas nativas primárias preservadas pelos povos indígenas em seis reservas, localizadas em sete dos 15 municípios avaliados.

Os canéforas produzidos na região, por sua vez, beneficiam-se da proximidade com a floresta, que fornece um ambiente com umidade elevada e temperaturas constantes, além de entregar abelhas e inimigos naturais das pragas que atingem os cafezais. 

Grande parte da cafeicultura da região é manejada em propriedades com até 12 ha, sendo que a lavoura cobre algo em torno de 3,3 ha. O restante é geralmente coberto por áreas de pastagens e florestas.

A cafeicultura da região, segundo os cientistas, pode também gerar créditos de carbono florestal. Isso pode encorajar os formuladores de políticas públicas a promover a restauração ambiental, conservando a biodiversidade da região e, com isso, mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

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