Por Natália Camoleze 

Muito tem se falado sobre a expectativa para a safra 2022/2023 e como o conflito Rússia e Ucrânia pode afetar os preços do café. A partir desses temas, entramos em contato com o analista econômico, com foco em café, do banco Rabobank, Guilherme Morya.

Segundo ele, a pesquisa recente da instituição estima que a safra atual alcançará 64,5 milhões de sacas, sendo 41,4 milhões de arábica. “Queda de 10,4% e 21,9%, respectivamente, em relação ao último ciclo de alta produção (em 2020). Vale a pena lembrar que este valor representa a menor produção de café arábica desde 2015. Problemas de seca e geadas reduziram significativamente o potencial produtivo nos cinturões de café arábica, especialmente considerando o aumento de áreas improdutivas (índices de podas maiores). Por outro lado, as lavouras de canéfora (conilon) apresentam excelentes condições e caminham para uma produção recorde, estimada em 23,1 milhões de sacas”, destaca; 

O conflito Rússia e Ucrânia chega hoje (11) ao 47º dia, com o destaque para o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, que afirmou que Moscou não vai interromper sua “operação militar”.

“Desde o início do conflito, os preços do café recuaram devido às preocupações com a redução da demanda. Rússia e Ucrânia consomem cerca de 4,3 milhões de sacas e 1,4 milhões de sacas, respectivamente. Combinadas, representam cerca de 3,5% da demanda global de café. Além da queda no consumo nesses dois países, existem preocupações de como o conflito pode impactar a demanda de café na Europa, dado que a pressão inflacionária, potencializada pelo conflito, pode limitar o consumo de café. Outro ponto que colaborou no recuo dos preços foi a recente melhora do fluxo de café no mundo (logística global), porém, a situação ainda precisa melhorar. Os recentes acontecimentos, também fizeram com que os fundos não-comerciais em Nova Iorque (The ICE-NY) diminuíssem suas posições no mercado de café, gerando mais volatilidade aos preços”, explica Guilherme. 

Preços e exportação    

Pensando nessas oscilações da Bolsa, Guilherme acredita que o produtor deve buscar a rentabilidade em seu negócio, para isso, é necessário saber o custo de produção, para assim, estabelecer uma meta de margem. “Muitas vezes, o produtor fica ancorado em um determinado preço, o que pode levar a perder boas oportunidades de venda. Sempre recomendamos que o produtor defina uma política de comercialização, com metas de vendas e margens, levando sempre em consideração seu custo de produção”. 

Já os problemas na hora da exportação envolvem, nos últimos meses, o aumento dos custos de fretes, a disponibilidade de contêineres e o cancelamento de bookings foram grandes desafios para a cadeia do café. “Como alternativa, foram realizados alguns embarques na modalidade “break bulk” para superar a falta de contêineres, porém, não é a modalidade ideal para exportar café. Apesar da recente melhora, os gargalos logísticos continuam impondo desafios. No primeiro bimestre de 2022, o Brasil exportou 6,8 milhões de sacas, queda de 10,6% em comparação ao mesmo período de 2021. Segundo o índice WCI, os custos dos fretes conteinerizados atingiram USD 8.042/contêiner em 7 de abril 2022, queda de 12,4% no mês, mas, ainda 64% maior que em abril 2021. A expectativa é que os problemas logísticos persistam ao longo de 2022”, explica Guilherme. 

Em relação ao clima, Guilherme destaca que é sempre um fator de incertezas para produção agropecuária, mas, não necessariamente implica em redução drástica na produção. “Para minimizar esse risco, é importante o produtor sempre investir em novas tecnologias, como, por exemplo, monitoramento (clima e lavoura), variedades resistentes, eficiência no uso de irrigação e/ou insumos”.  

Consumo 

Recentemente, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) divulgou que o consumo de café brasileiro foi de 21,5 milhões de sacas em 2021, aumento de 1,71% em relação a 2020. “Valores muito próximos que nós trabalhamos no Rabobank. Fatores que colaboraram para esse incremento envolvem a demora da indústria em repassar o aumento do custo de café verde e outros materiais ao consumidor e, também, a consolidação da reabertura do comércio durante 2021. Para 2022, vemos como pouco provável um aumento no consumo nas mesmas proporções que observamos em 2021. Dados da ABIC e do Instituto de Economia Agrícola (IEA), indicam que nos últimos 12 meses, os preços de café no varejo aumentaram quase 90%. E diante da atual pressão inflacionária e de outros desafios econômicos que o Brasil enfrenta, tendem a limitar um grande crescimento no consumo”, finaliza. 

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