Os adubos aumentaram muito de preço nesse último ano, devido, principalmente, às elevações na cotação do dólar e no preço do petróleo/gás, além da influência da maior procura por fertilizantes, motivada pelo aumento dos preços de produtos agrícolas. Nessa situação de adubos caros, os produtores e os técnicos que os assistem precisam pensar em racionalizar a adubação nas lavouras de café. Uma das alternativas possíveis é iniciar com a redução do uso de adubos fosfatados.

O fósforo é um nutriente importante para o desenvolvimento do cafeeiro, sendo essencial na fase de formação da lavoura, pois influi diretamente na estruturação do sistema radicular das plantas. Já na fase adulta da lavoura de café, o fósforo é, dentre os macronutrientes, o menos consumido para a vegetação e produção de frutos. Além disso, diversos fatores favorecem o melhor aproveitamento pelas plantas adultas de café do fósforo presente no solo.

A associação de micorrizas e a presença de ácidos orgânicos nos exsudatos das raízes do cafeeiro, combinados com a boa disponibilidade de fósforo total nos solos, permitem uma adequada liberação de fósforo, em forma solúvel, disponível para as plantas. A prova disso tem sido a falta de resposta produtiva, em inúmeras pesquisas realizadas com doses crescentes de fósforo, aplicadas na adubação anual dos cafeeiros.

Dois exemplos mais recentes de pesquisas sobre o efeito de uso de adubos fosfatados, na produtividade de cafeeiros, podem ser observados na tabela 1, com trabalhos realizados em duas regiões bem representativas de cafeicultura, no Sul e na Zona da Mata de Minas. Verifica-se que, em ambos os locais pesquisados, houve grandes aumentos nos níveis de P no solo em resposta às doses aplicadas, porém não foram observados acréscimos significativos de produção nos cafeeiros adubados com P, em relação aqueles da testemunha, sem adubação fosfatada, mesmo sobre solos com níveis de P considerados baixos (9,3 e 10 ppm (Mehlich)).

Tabela 1 – Níveis de P no solo e produtividade em cafeeiros sob efeito de doses crescentes de P2O5, em Martins Soares e Boa Esperança (MG)


Sobre a presença de fósforo total no solo, em duas áreas cafeeiras avaliadas, em Franca (SP) e São Domingos das Dores (MG), os resultados de análises mostraram níveis de P total bastante altos, na faixa de 400 a 1500 ppm, assim evidenciando elevado potencial de liberação, do solo para as plantas de café.

A indicação de uso de fósforo com base nos resultados de análise de solo (extrator Mehlich) tem sido feita (Manual de Recomendações – Cultura do Café no Brasil, de Matiello J.B et alli) observando o uso de dose total em áreas com menos de 10 ppm, uma meia dose em níveis entre 10-20 ppm e dispensando a adubação com P em áreas com mais de 20 ppm. Na situação atual de preços altos dos adubos, pode-se afirmar, com segurança, baseado nas evidencias das pesquisas e nos fatores favoráveis ao aproveitamento de fósforo pelo cafeeiro, que não é preciso usar fósforo na adubação em lavouras adultas quando o solo tiver acima de 10 ppm de P.

A economia com a prática de não usar o fósforo na condição em que o nível de P no solo já estiver adequado pode ser observada ao se comparar o preço e o gasto com uso de fórmulas, como as 20-05-20 e 20-00-20. Elas têm, respectivamente, preços de R$ 4.900,00 e R$ 4.590,00 por tonelada (preços em início nov21, em formuladora de adubo, em Manhuaçu-MG). Uma adubação adequada, para lavoura com produtividade de 40-50 scs/ha, requer o uso de cerca de duas toneladas dessas fórmulas de adubo por ha. Nessa dose, a economia pelo uso da fórmula sem fósforo vai ser de R$ 620,00 por ha.

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