O clima tem sido uma preocupação constante para os produtores, seja na produção de café, soja, milho, cana-de-açúcar ou laranja. O período mais severo da seca que atingiu o País aconteceu entre março e dezembro de 2020. Apesar do retorno das chuvas em todas as áreas do Brasil, os volumes ainda ficam abaixo da média esperada, mostrando um cenário de irregularidade.

De acordo com análise de Paulo Sentelhas, professor da Esalq/USP e CTO da Agrymet, os principais impactos para a agricultura foram observados no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. “A gente vê que em grande parte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, oeste e norte do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Triângulo e Sul de Minas, Tocantins e Goiás nós tivemos uma condição de chuva muito abaixo do que observado na região. Veja que isso traz um impacto muito grande não só para a agricultura, mas também para o abastecimento hídrico das cidades, ou seja, os mananciais ficam muito abaixo porque a gente tem um balanço hídrico muito negativo”, comenta.

Em relação à agricultura, o especialista afirma que as condições resultaram em um “desastre muito grande”, impactando demasiadamente a produção, sobretudo na região Sul, que já vinha de uma condição muito ruim desde 2019. 

Em São Paulo, o agrometeorologista destaca as condições da produção de cana-de-açúcar, que deve ter quebras expressivas em praticamente todo o estado. “Afetou também muito o café principalmente na região Mogiana (SP) e Sul de Minas, que, especificamente logo após a florada, a seca promoveu um grande abortamento de flores e de chumbinho. E também para a cultura do citrus”, afirma.

Explicando a irregularidade, Paulo Sentelhas destaca mais uma vez que vários fatores contribuíram para um regime de chuvas tão afetado no Brasil. Entre eles, o especialista volta a destacar o La Niña, mostrando que além desses sistemas, outros acabaram impactando a estação chuvosa. “O que a gente observou foi que a partir de março, parte da umidade proveniente da região Amazonas, passou a atuar de forma menos intensa. Isso passa exatamente sobre a região Centro-Oeste, vem para a região Sudeste e Sul”, explica.

Em dezembro de 2020, o produtor passou a observar o retorno das chuvas nas principais áreas produtoras do País e, apesar da recuperação do solo, os volumes em algumas áreas ainda mostram irregularidades das chuvas.

Segundo Paulo, de modo geral, o início de 2021 não foi tão favorável assim. Na região Sul e parte do Mato Grosso do Sul aconteceu uma situação de chuvas igual ou acima do normal, já garantindo boa condição para o desenvolvimento da safra de grãos. “Mas a gente consegue ver também nesse mapa que, no mês de janeiro, grande parte do Sudeste, Centro-Oeste e Sudeste passaram a ter anomalias negativas”, comenta.

Os dados da Agrymet apontam ainda que em fevereiro o cenário mudou, com redução das chuvas no centro-sul do Brasil e aumento dos volumes no centro-norte do País. “Veja o impacto principalmente na região central, pegando principalmente as áreas canavieiras, com chuvas abaixo do normal novamente. A retomada do crescimento dos canaviais voltou a ser prejudicada no mês de fevereiro”, comenta.

Em relação ao mês de março, a nove dias do fechamento do mês, Paulo Sentelhas mostra mais uma vez anomalias negativas de chuva para boa parte do País, ou seja, mais um mês com volumes abaixo da climatologia. Chama atenção, no entanto, o excesso de chuvas na região de Sorriso (MT). “A gente tem um quadro de chuvas muito acima do normal. Vemos realmente que o final de fevereiro e a primeira quinzena de março, as chuvas muito fortes afetaram a qualidade dos grãos e atrapalharam a colheita”, comenta.

Daqui para frente, as atenções se voltam para o milho safrinha, que terá um alongamento do ciclo devido ao atraso na colheita. “Havendo um atraso no plantio, a situação neste momento ainda está boa, com plenas condições de crescimento. O problema é o que está por vir, a partir do momento que começa a atrasar a semeadura, a gente tem uma redução de uma saca e meia por hectare por dia de atraso da semeadura”, explica.

O agrometeorologista destaca ainda que o plantio a partir de agora entra em uma fase de diminuição dos volumes no regime de chuvas e que a cultura corre o risco de enfrentar episódios de frio mais intensos. 

As informações são do Notícias Agrícolas.

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