A situação é crítica nas lavouras do Cerrado Mineiro, onde se produz 77% dos cafés arábica do Brasil. A atual safra, que é de ano negativo na bienalidade da cultura (o que naturalmente já reduz a produção em média em 20% entre um ano e outro), deve ser ainda menor por causa da estiagem que atingiu a região.

O cafeeiro é uma planta que necessita de pelo menos de 1.500 milímetros a 2 mil milímetros por ano para se desenvolver bem. Em épocas de estiagem, a planta busca água no solo para compensar o déficit hídrico. No ano passado, entre os meses de agosto e outubro, não choveu na região e a seca atingiu 55,9% dos municípios produtores, seguido de altas temperaturas que também contribuíram para derrubar as floradas.

A Secretaria de Agricultura de Minas Gerais estima que, nesta temporada, a quebra na safra possa chegar a 40,7% em relação ao ano passado, diminuindo em 10 milhões de sacas o volume final de café, gerando um prejuízo de cerca de R$ 8 bilhões.

O Consórcio Cerrado das Águas (CCA), com o apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF, na sigla em inglês) e do Instituto de Educação do Brasil (IEB), consolidou uma plataforma colaborativa com o objetivo de restaurar áreas para preservar e conservar os remanescentes naturais do Cerrado Mineiro e assegurar a produção de água, que é uma das principais ferramentas disponíveis para mitigar os efeitos da variação climática na cultura, como a seca que castiga a produção em Minas Gerais.

O CCA conta com a parceria de empresas que atuam no setor como a Cofco INTL, Nespresso, Nescafé, Nestlé, Volcafé, Lavazza e as cooperativas Cooxupé, de Guaxupé (MG) e a Expocaccer, de Patrocínio (MG). Para implantar o projeto, o CEPF aportou US$ 400 mil e recebeu uma contrapartida de R$ 800 mil dos parceiros no primeiro ano de atuação. Neste ano, houve outro aporte de R$ 800 mil e há previsões de novos aportes que podem alcançar R$ 3,4 milhões até o ano de 2023.

O projeto foi implantado inicialmente no município de Patrocínio, na bacia do Córrego Feio. Até 2023, a estratégia é expandir para outras regiões como Serra do Salitre, Monte Carmelo, Rio Paranaíba, Carmo do Paranaíba, Araguari e Coromandel. Juntas, essas cidades representam 70% da produção de café no Cerrado Mineiro. “O fomento e a manutenção de paisagens sustentáveis nestas regiões podem alavancar os ganhos de serviços ecossistêmicos, preservando os recursos naturais, sobretudo os hídricos, que são essenciais ao desenvolvimento da cultura cafeeira”, explica o coordenador da Estratégia de Implementação Regional do CEPF Cerrado, Michael Becker.

Uma das atividades do CCA é o Programa de Investimento do Produtor Consciente (PIPC) que, por meio de ações estratégicas, garante estrutura e provisão de serviços ecossistêmicos a produtores localizados nos arredores das bacias hidrográficas. “Através deste programa, o cafeicultor também faz a sua parte para preservar os recursos naturais da propriedade para garantir a produção cafeeira mesmo em períodos críticos”, complementa Becker.

A bióloga e secretária-executiva do Consórcio Cerrado das águas, Fabiane Sebaio Almeida, explica que o PIPC, inaugurado em janeiro de 2020, também em Patrocínio, conta com consultoria especializada e baseada em metodologias sustentáveis para os moradores locais do Triângulo Mineiro. As metodologias, segundo ela, envolvem desde o diagnóstico das áreas, passando pela agricultura inteligente baseada no clima à gestão eficiente dos recursos hídricos. O objetivo é que o gerenciamento assegure o abastecimento da produção de café, mesmo em momentos de escassez.

As orientações feitas pela equipe do PIPC são pensadas sob a ótica da segurança e estabilidade ecossistêmica, prezando pela singularidade e necessidade de determinada propriedade. Assim, eles planejam o manejo adequado para controlar o fogo, enriquecer vegetações nativas e recuperar solos degradados, por exemplo.

Para saber mais acesse o site.

Fonte