Nesta quinta-feira (10), os 30 vencedores do Cup of Excellence 2020, que é realizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Alliance for Coffee Excellence (ACE), poderão comercializar seus cafés por preços superiores ao mercado convencional.

O grande campeão deste ano foi o jovem produtor Luiz Ricardo Bozzi Pimenta de Sousa, de apenas 20 anos. “Nosso pai realmente não queria que a gente permanecesse na propriedade, porque ele não desejava para nós o enfrentamento de todas as dificuldades e desafios quando se trabalha com a cafeicultura, quando se é agricultor. Ele entendia que poderíamos buscar carreira como médico, advogado ou veterinário”, conta Luiz Ricardo.


Luiz Ricardo Bozzi Pimenta de Sousa, campeão do Cup of Excellence

Mas o ingresso do irmão, em 2010, no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus de Venda Nova do Imigrante (ES), terra natal dos Pimenta, mudou completamente o futuro da família.“No Ifes, Luiz Henrique teve contato com o professor Lucas Louzada, que começou a transmitir muitos conhecimentos sobre cafeicultura, provas de degustação, a questão da qualidade e dos cafés especiais. Isso fez com que ele começasse a se apaixonar pelo ramo e despertasse um interesse muito grande pela atividade”, conta.

Já Luiz Ricardo fez curso técnico em agropecuária, o que despertou sua paixão por plantas, cultivares e solo. “Na escola, seguimos um princípio agricultura orgânica, sustentabilidade, agroecologia. Isso fez com que eu me apaixonasse pelo setor e quisesse trazer algo diferente e melhor para dentro da propriedade. Foi através desse entusiasmo que começamos o desenvolvimento dos nossos cafés”, explica.

Participação no Prêmio

A cada safra os irmãos realizam a classificação de seus cafés, sendo especiais ou não. Para o Cup of Excellence, eles contavam com 60 lotes provados, a partir dos quais selecionaram os 10 principais e afunilaram até chegar aos melhores cinco, que “blendaram” para preparar a amostra inscrita no concurso.

“Esse café que ‘blendamos’ contém notas com alto teor de melaço, leve direcionamento de sabor para capim-limão, cítrico e também notas de mel. Quando agrupamos isso, essas nuances ficaram muito nítidas, o café ficou muito balanceado e não existia adstringência, ficou um café com um potencial muito alto, o que fez com que a gente acreditasse em uma conquista futura com esse lote, preparado especificamente para o Cup of Excellence, que acabou campeão”, descreve Luiz Ricardo.

Com a conquista, os jovens irmãos querem servir de exemplo e inspiração a juventude e aos agricultores familiares locais. “A gente espera entusiasmar de forma geral os jovens e os pequenos cafeicultores da nossa região, pois nosso resultado prova que é possível, sim, produzir pouco e com grande qualidade; que é possível, sim, superar os desafios, pois quebramos o tabu de que, em nossa cidade, não conseguiríamos produzir cafés especiais”, salienta.

Luiz Henrique espera que a conquista inspire jovens e agricultores familiares a seguirem o caminho da qualificação: “café especial é um caminho sem volta, com rentabilidade muito grande. E não é só questão de preço, mas também de qualidade de vida, pois quando se trata o solo com mais carinho, quando há mais respeito com a natureza, nos tornamos seres humanos melhores e passamos a ter melhores produções. Tudo isso foi o que aprendi no Ifes e na BSCA, que foi um divisor de águas para a gente sempre estar motivado a investir mais em qualidade e no bem estar das lavouras e no nosso bem estar, o que é refletido na qualidade final”.

Conhecimento

O professor do Ifes, Aldemar Polonini Moreli, destaca o papel motivador da instituição voltado para que esses estudantes sejam empreendedores, o que os fez entender que constituir seu próprio negócio, investir nele, no avanço tecnológico, na lacuna aberta da produção de cafés especiais é um fator preponderante.

“Todos esses jovens são filhos de produtores daquele formato antigo. À medida que tiveram oportunidades, enxergaram que conseguiriam, empregando tecnologias, com mão de obra familiar e patrimônio que a família já possui, alavancar o negócio estando no campo. E o desenvolvimento do café na propriedade tornou-se sensível à medida que viram que, se levar tecnologia, obtêm excelentes resultados, porque o fator produção já existe”, aponta.

O desenvolvimento de Luiz Henrique está ligado aos seus conhecimentos absorvidos no Ifes. “Ele teve acesso a inovações tecnológicas, abriu novos horizontes e voltamos a despertar para a cafeicultura com maior valorização. Como tínhamos conhecimento e passamos a nos deparar com a chegada de novas tecnologias, com o suporte dos professores do Ifes conseguimos um desenvolvimento muito rápido nesse sentido”, comenta o irmão.

Luiz Henrique revela que passaram a fazer investimentos na qualidade do solo, tratando-o como um canteiro vivo. “Buscamos avançar mais na lavoura, na nutrição, na questão da qualidade do solo”, conta. “Investimos desde o plantio, o manejo do solo, porque não é possível produzir um café especial se não tem um cuidado especial com seu solo, com sua planta”, completa.

Ambos destacam que também aprimoraram o processo de pós-colheita, fazendo descascamento dos cafés e investindo em infraestrutura para secagem e armazenamento. “Adquirimos conhecimento e confiança no processo que realizamos, desde coisas básicas, que começaram a dar muito resultado”, explica Luiz Ricardo.

A evolução no processo produtivo também contou com a ajuda da BSCA, onde Luiz Henrique se formou como Q-Grader, provador de café qualificado, controlado e profissionalmente treinado pelo Coffee Quality Institute (CQI). “O curso de Q-Grader da BSCA foi muito importante porque a gente saiu do achismo. Antes, levávamos a amostra aos corretores e eles davam sua opinião, sem que pudéssemos contestar. A partir do momento que fiz o curso, consegui entender o que a gente estava produzindo, aonde poderíamos chegar, quais mercados a gente poderia buscar, isso teve um impacto muito grande, porque sabendo o que se está produzindo, também se sabe onde investir para otimizar a qualidade, melhorar os processos, ver qual se adapta melhor à nossa região, qual empregar em cada safra e qual o melhor resultado. Todo começo de safra fazemos uma triagem e foi assim que chegamos ao café campeão do Cup of Excellence”, explica.

A história de qualificação dele no café também cruza o caminho da BSCA em outras ocasiões. “Tive a oportunidade de ser juiz do Cup of Excellence por duas vezes. Em uma delas, em 2017, tive o orgulho de fazer parte da equipe de apoio em Venda Nova (do Imigrante), na nossa cidade, e foi assim que vi cafés de elevado padrão e passei a almejar esse know how que muitos produtores têm e lutam para manter na produção de cafés de excelência”, recorda.

Lucas Louzada, professor do Ifes e responsável pelo direcionamento de Luiz Henrique ao nicho de cafés especiais, celebra o resultado alcançado pelo aluno e seu irmão. “Para nós, é uma alegria imensa ver o que foi aplicado na sala de aula e nos laboratórios refletir na vida destes egressos, jovens que receberam formação acadêmica e estão conseguindo empreender, ousar e realizar coisas grandes com a produção de cafés especiais”, comemora.

Importância acadêmica

Com foco em capacitar os produtores da região de Venda Nova do Imigrante, o Ifes iniciou o projeto de criação de seu Laboratório de Análise e Pesquisa em Café (LAPC) em 2014, com o professor Lucas Louzada, que, buscou atender a comunidade e treinar alunos para a prática de análise sensorial e produção de cafés especiais.

“Tudo nasceu de forma muito simples, fruto de parcerias para aquisição dos equipamentos para a montagem do Laboratório. Com o passar dos anos, o projeto ganhou força e robustez em relação à comunidade científica, dada a notoriedade junto ao território e ao lastro de produção científica dos pesquisadores que hoje atuam junto ao LAPC”, conta o docente.

Segundo ele, a parceria com a BSCA foi essencial, uma vez que era necessário formar Q-Graders para executar as análises sensoriais com certificação. Nesses seis anos de parceria com a Associação, foram graduados seis alunos como bolsistas, que hoje atuam no setor privado como empreendedores ou estão concluindo sua formação acadêmica.

Além disso, o estreitamento da parceria permitiu que vários dos alunos passassem a integrar concursos da BSCA como equipe de apoio, como o exemplo de Dério Brioschi Júnior, que, em 2017, foi o mais jovem juiz da Fase Internacional do Cup of Excellence. “Essa experiência nos permitiu aproximar muitos produtores da BSCA, dando suporte aos concursos de qualidade e ações de promoção dos cafés especiais no Brasil e no mundo”, conta.

As informações são da BSCA.

Fonte