Por Cristiana Couto

Há um século, a região conhecida como Brejo Paraibano foi um pólo nordestino importante na produção de café. O grão, que praticamente desapareceu na década de 1920, volta agora a ser o centro das atenções do engenheiro agrônomo Guilherme Silva de Podestá: o pesquisador e sua equipe da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) estão, desde 2017, revitalizando a cafeicultura da região. E, nos dias 9 e 10 de abril, um evento reunirá produtores, pesquisadores e estudantes para apresentar os primeiros resultados desse esforço e discutir os rumos da cafeicultura local.

Bem servida de chuvas (1.200-1.300 mm por ano) e a 560 m de altitude, o Brejo Paraibano, que abrange cidades como Areias, Alagoa Nova, Bananeiras e Serraria, chegou a ter seis milhões de pés de café. “Algumas fontes dizem que esse volume foi só na cidade de Areia”, pontua Podestá. De qualquer modo, relatos garantem que um produtor desta cidade – sede da antiga Escola de Agronomia da Paraíba (fundada em 1934) – chegou a ter entre 420 e 500 mil pés da planta. 

Figura 1

Colheita de café no campo experimental da UFPB

O vilão da história, dizem os escritos antigos (que são poucos), foi a cochonilha vermelha do café (Cerococcus parahybensis), que ocorre na região (também em Pernambuco e no Ceará). “Acreditamos que não foi somente a praga”, diz Podestá, professor do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais da UFPB, que atribui a decadência da cafeicultura local, também, à falta de investimento e assistência técnica para corrigir o solo e devolver a ele os nutrientes necessários. “Também há o nosso veranico, que é muito forte em alguns anos”, acrescenta ele. 

Tentativas de revitalizar Areia e arredores foram feitas depois, sem sucesso. Em 2016, Podestá foi contratado pela UFPB e, com o tempo, soube da história e resolveu investir no potencial da região para retomar a produção – desta vez, com qualidade. 

Com o projeto “Resgate da cafeicultura no Brejo Paraibano”, Podestá – que também é orientador do Necaf (Núcleo de Estudos em Cafeicultura), do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da universidade – firmou parceria com a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), que forneceu sementes de 21 genótipos de Coffea arabica. “O intuito da pesquisa era saber se a espécie se adaptaria à região e quais genótipos se adaptariam melhor”, explica o pesquisador (o projeto, que permite a prática no campo dos estudantes da UFPB, também inclui oficinas, palestras e acompanhamento técnico a agricultores de municípios como Areia, Bananeiras e Alagoa Nova).

Figura 2

Guilherme Podesta´ (o quarto da esq. para a dir., sentado) e equipe

Em 2020, foram plantadas seis variedades de arábica, das quais se destacaram arara, catucaí 24137, catuaí vermelho e catuaí amarelo. A produtividade boa e o potencial de qualidade dos primeiros plantios gerou mais parcerias e investimento em cultivo e processamento do grão. “Dá pra fazermos café especial por aqui”, afirma Podestá, que vem recebendo laudos que pontuam os cafés das fazendas experimentais da universidade acima de 82 pontos. “Ontem, recebi um áudio de um Q-Grader que avaliou um arara nosso, com fermentação de 24 horas, em 85,7 pontos”, comemora.

Não é à toa que, em setembro de 2024, a universidade lançou a marca Grãos da Parahyba, que está em fase final de registro no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). A marca vem incentivando ainda mais o cultivo entre os produtores locais. Hoje, são cerca de 40 pequenos cafeicultores que já apostam nos cafés selecionados pela equipe do pesquisador, totalizando 4,5 hectares plantados. “Estamos tendo muita procura do pessoal, que vem adquirir mudas com a gente”, conta ele, que tem parceria com outros departamentos da universidade em aspectos como gestão de resíduos do café e estudos de fermentação. Segundo o pesquisador, os recursos da venda dos Grãos da Parahyba vão servir para investimento em mais pesquisas e experimentos.

Atualmente, a equipe trabalha com 53 materiais genéticos de arábica oriundos de parcerias, e o próximo passo é cultivar robustas amazônicos. “São seis clones que serão plantados daqui a alguns dias”, anuncia Podestá. 

O primeiro encontro

Nos dias 9 e 10 de abril, o 1º Encontro de Cafeicultura do Brejo Paraibano, em Areia, pretende compartilhar essas iniciativas e trocar experiências sobre temas relevantes para a cafeicultura. O evento vai reunir em torno de 20 especialistas do Nordeste e de outras regiões do Brasil. 

A programação inclui palestras, painéis e visitas técnicas a propriedades, abordando temas como qualidade e produtividade, fermentação, torra e degustação de cafés, agregação de valor e o papel das mulheres na cafeicultura.

A UFPB será sede do evento, realizado pelo (Necaf/UFPB) e pela Associação de Turismo Rural e Cultural de Areia (Atura), além de ter como parceiros diversas entidades, como Embrapa Alimentos e Territórios, Governo da Paraíba e Sebrae Paraíba. 

Café e turismo

A cafeicultura local tem sido vista não só como uma oportunidade para a geração de renda, mas também como um atrativo para o turismo rural e gastronômico. “Está-se criando a Rota do Café por Areia, que é um ponto turístico importante”, diz Podestá, referindo-se aos casarões históricos da cidade que é, também, a capital paraibana da cachaça, com 11 engenhos registrados. “O café vai ser mais uma opção”, promete o pesquisador.



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